Olhar discreto...

“ O Treinador e o Futsal/Futebol de Formação”

“O conceito de formação deriva da palavra latina formatĭo. Trata-se da acção e do efeito de formar ou de se formar (dar forma a/constituir algo ou, tratando-se de duas ou mais pessoas ou coisas, compor o todo do qual são partes).
A formação também se refere ao modo como uma pessoa foi criada na sua infância e adolescência, isto é, à educação que recebeu. Exemplo: “Aquela senhora é muito bem formada” (é educada e tem modos elegantes).”
Partindo da definição acima referida pode – se então afirmar que o Futsal de Formação é uma etapa em que os praticantes são educados, instruídos para a prática da modalidade, sendo – lhes conferidos ensinamentos a cada treino que passa (o processo de aprendizagem – formação não termina quando termina o último escalão da formação – juniores).
Podemos dizer que as etapas de Formação são os escalões pelos quais os praticantes têm de passar ao longo da sua formação (para melhor percepção), iniciando nos Escolas, passando pelos Infantis, Iniciados, Juvenis e culminando nos Juniores. Ou seja, ao longo da formação existem 5 etapas na qual o praticante se desenvolve.
Na minha opinião o processo de ensino – aprendizagem (treinador – jogadores) da modalidade deve seguir um Modelo de ensino específico de Futsal. O que é isto de “Modelo de ensino específico de Futsal” ?? A maioria de nós, que passou pela escola primária, não aprendeu a escrever de um dia para o outro. Primeiro começa – se por aprender as vogais depois as consoantes e assim sucessivamente, mas tudo de forma gradual e progressiva. É assim que deve ser também o Modelo de ensino do futsal, um processo aquisitivo, constante e gradual.
Muitos dos leitores estão a questionar - se: “E porque é que esta é uma forma correcta de ensinar a modalidade? “ Pois bem, como nós só conseguimos escrever um ditado após aprendermos as vogais, consoantes e o demais abecedário, também só conseguimos assimilar e executar “ um movimento na paralela no futsal” quando temos por base o princípio específico do ataque denominado Mobilidade, que se caracteriza pela procura do espaço vazio, criando rupturas no equilíbrio da estrutura defensiva adversária, tornando o jogo ofensivo imprevisível. Que cuidados devemos ter quando se “forma” um Modelo de Ensino? Procurar que os conteúdos seja sempre progressivos e evitar a sua repetição em escalões distintos…. Conteúdos apropriados  ao desenvolvimento maturacional do atleta e treinar muito a tomada de decisão (não impor a forma de resolução de um determinado exercícios). Alguns erros do Treinador com que nos podemos deparar na formação são, o planear o treino de jovens como se fosse um treino de seniores e grande ânsia pelo resultado…. Quando se forma, para mais em clubes pequenos, o único objectivo tem de ser a evolução do próprio atleta enquanto jogador e enquanto homem….Era ideal que todos os clubes tivessem estrutura para tornar possível a máxima de formar a ganhar, mas tal não acontece e o treinador tem de ter a capacidade de identificar o mesmo ….

Qual o modelo que devemos implementar nos escalões de formação?
Não se pode dizer que o Modelo “A” ou “B” é o mais adequado (temos de analisar o contexto onde estamos inseridos – condições do clube, infra – estruturas, recursos humanos, etc..), mas há de facto linhas orientadoras que qualquer modelo deve seguir, ou seja, independentemente das condições dos clubes, os conteúdos que cada modelo tem em determinada etapa de formação (escalão) são fundamentais, fazendo com que o importante, os objectivos (qualitativos/aquisitivos) sejam atingidos em cada etapa, para que o atleta esteja apto a assimilar/executar novos conceitos e processos na etapa seguinte. Quem cria o modelo de aprendizagem deve ter em mente vários aspectos, como por exemplo a hierarquização de conteúdos de forma gradual e consistente, tendo como objectivo inicial a transição de um jogo anárquico (sem organização) para um jogo de organização. Para elucidar melhor os leitores segue o seguinte quadro com conteúdos fundamentais de um Modelo de Ensino para a Formação Futsal / Futebol:

PETIZES / TRAQUINAS
BENJAMINS
INFANTIS
- Controlo da Bola
Princípios Específicos do Ataque / Defesa:
- Princípios específicos de Mobilidade (Ataque) e Equilíbrio (Defesa)
- Orientação e Progressão para a Baliza
- Penetração
- Consolidação dos Princípios de Coberturas Ofensivas e Defensivas
- Comunicação
- Contenção
- Concentração Colectiva
- Duelos Individuais
(1 vs 1)
- Cobertura Ofensiva
- Manutenção da posse de bola
- Passe - recepção
- Espaço / Concentração
- Variações do Centro de jogo, através dos apoios feitos pelas Coberturas Ofensivas
- Finalização
- Cobertura Defensiva
- Alternar os jogadores pelas posições dos sectores onde se sentem mais confortáveis a jogar.
- Descentração da Bola (começar a perceber que é um jogo de equipa e que os jogadores não podem estar todos perto da bola)
- Os princípios específicos de Mobilidade (Ataque) e Equilíbrio (Defesa) podem ter mais incidência no escalão seguinte.
- Noções básicas de largura e profundidade e gestão do risco no 1 vs1
- Alternar os jogadores pelas posições.
- Criação e execução de esquemas tácticos (bolas paradas):
- Livres, Cantos, Reposições de bola e bola de saída. (Mais no âmbito da organização estrutural do que funcional)


Pode – se então definir que os conteúdos programáticos de um Modelo para o Ensino do Futsal / Futebol no escalão de PETIZES / TRAQUINAS se caracterizam, por serem conteúdos de âmbito INDIVIDUAL. No escalão seguinte (Benjamins) podemos caracterizar os Conteúdos como MICRO – TÁCTICOS, pois é feita a introdução aos princípios específicos do jogo. Em Infantis os conteúdos predominantes são MACRO – TÁCTICOS, pois há a execução dos restantes princípios conferindo consistência aos já trabalhados anteriormente. Importa referir que a TOMADA DE DECISÃO num determinado exercício (ou jogo) não deve ser imposta pelo treinador aos atletas, pois “Promover a tomada de decisão nas acções de jogo leva a um aumento da quantidade/qualidade de recursos nos nossos jogadores.” (Prof. Hugo Folgado – Universidade de Évora).
O treino da tomada de decisão baseia – se na construção de exercícios abertos em que os jogadores participam activamente na sua aprendizagem, ou seja, não se deve conceber exercícios cuja resolução dos mesmos passa só por uma possibilidade.
Para completar o quadro acima, falta falar nos escalões de Iniciados, Juvenis e Juniores. É nestes escalões que devemos começar a implementar noções mais profundas dos quatro momentos do jogo (e fases de jogo; I,II,II), Organização Defensiva, Organização Ofensiva, Transição Ataque - Defesa e Transição Defesa – Ataque (se bem que há quem defenda que não existe momentos de Transição, argumentando que uma equipa quando ganha/perde a bola entra em Método de Jogo Ofensivo/Defensivo directamente, o que eu não concordo, mas isto é conversa para outras núpcias).

Por último….
Um erro muito frequente e visível nos treinadores de escalões de formação passa pela realização de treinos iguais aos dos seniores, ou igual a um determinado treino realizado pela equipa A, B ou C. A unidade de treino é preparada especificamente para os jogadores que treino (consoante os seus estados maturacionais, idade etc..), não é uma receita que serve para todos, para não dizer que cada equipa para treinar em especificidade deve realizar exercícios que promovam o modelo de jogo criados pelos treinadores para as suas equipas. Logo, se o Modelo de Jogo é preparado segundo as características táctico – técnicas de uma determinada equipa, faz sentido eu fazer um treino para “Iniciados” (por exemplo) igual ao treino do plantel sénior do S.L. Benfica? È óbvio que não, os jogadores são diferentes, o modelo de jogo é diferente, as cargas, densidade, intensidade de treino e objectivos são diferentes, é tudo diferente. Então à que parar, e pensar que a unidade de treino e a sua concepção são específicos da equipa que treino, do modelo de jogo que criei etc …

Por...

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